Durante palestra ministrada no Interagro, em Campo Grande, o ex-ministro da Economia Paulo Guedes criticou a política econômica da China, exaltou o agronegócio e pregou que a animosidade na política e os ataques aos Poderes precisam acabar. Apesar da alfinetada do ex-ministro, o país asiático é o maior consumidor da produção do segmento, tanto no Estado quanto no País.
Guedes, que foi “superministro” da Economia entre 2019 e 2022, durante mandato de Jair Bolsonaro (PL), destacou que, em outros países, a polarização política já está “escalando”, e questionou: “A gente quer escalar aqui também?”.
“Não é bom. Lá fora está se questionando a eficácia do sistema multipartidário: ‘Quanto será que estamos gastando com a democracia? Quanto custam os órgãos, o Legislativo, o Judiciário? Será que funciona? Por que a China avança tanto? Será que é porque ela não gasta com política?’. Tem gente pensando nisso, e eu estou radicalmente contra. Eu acho o contrário. Eu prefiro ser livre, em um país que cresce 3%, do que ser prisioneiro em um país que cresce 14%”, declarou.
Conforme publicado pelo Correio do Estado, na edição de 20/6, a China já era o principal destino de exportação da produção sul-mato-grossense, mas ampliou a participação de 42,4% para 47,8% no intervalo de um ano, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Em relação ao montante negociado, a alta foi de 4,7%. De janeiro a maio do ano passado, foram negociados R$ 10,213 bilhões (US$ 1,874 bilhão) com o país asiático. Já nos cinco primeiros meses deste ano, o montante passou a R$ 10,687 bilhões (US$ 1,961 bilhão).
O aumento em quantidade de produtos enviados ao mercado exterior foi mais expressivo, de 23,83% no mesmo período. Nos primeiros cinco meses do ano passado, Mato Grosso do Sul enviou 3,694 milhões de toneladas à China, enquanto no mesmo período de 2024 foram 4,574 milhões de toneladas comercializadas com o país.
Considerando todo o território nacional, o país asiático é o principal parceiro comercial e consome mais de um quarto de tudo que o Brasil produz.
AGRONEGÓCIO
A palestra do ex-ministro foi proferida no segundo dia do Interagro para falar sobre as perspectivas da expansão do agro. Durante o discurso, Guedes exaltou a atuação do agronegócio brasileiro. “Vocês (produtores rurais) mantiveram o Brasil se alimentando, vocês garantem a segurança alimentar do Brasil”, enalteceu.
“Temos que entender que tudo está conectado e temos de ter consciência do potencial do Brasil. Nós somos a segurança alimentar do mundo. Nós somos o futuro cibernético, nós vamos reindustrializar o Brasil. Existe um horizonte imenso de oportunidades aqui dentro, só depende de nós mesmos. O setor agrícola é a maior fonte de competitividade do Brasil, e tudo está ali no entorno, a agroindústria como expansão, e toda infraestrutura. Os governos precisam estar atentos a isso”, declarou Guedes.
O economista ainda fez menção ao ex-presidente em seu discurso. “Como dizia o meu presidente: ‘Eu não entendo nada de política’”. Depois, sugeriu que o vencedor das últimas eleições, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), controlasse os conflitos políticos do Brasil.
“Eu não critico ninguém (…). Eu estou constatando que cabe ao vencedor (Lula), baixar a bola, acalmar tudo. Porque se não, está alimentando, realimentando essa escalada”, declarou o ex-ministro.
Guedes disse ainda que as autoridades e a sociedade, ainda que tenham posicionamentos políticos diferentes, devem conseguir conversar sobre o assunto sem “dar uma facada” no outro.
“São valores, sistemas, visões. Nós não temos capacidade de conversar sobre isso sem dar uma facada no outro. Temos que ser capazes de discutir isso”, acrescentou.
Por fim, Guedes disse que atacar um ou outro presidente, com termos como “ladrão” e “genocida”, é atacar também a Presidência da República.
“Ataques aos presidentes são também um ataque à Presidência, assim como ataques ao Judiciário também são ataques aos Poderes”, concluiu o ex-ministro.
Após a palestra, compuseram a mesa para um debate a senadora Tereza Cristina (Progressistas), o deputado federal Pedro Lupion (Progressistas), o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande (SRCG), Alessandro Coelho, o presidente da Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai, e o presidente do Sistema Famasul, Marcelo Bertoni.
“É uma honra receber essas autoridades no Interagro, dispostas a compartilhar conhecimento nesse evento. São discussões como essas que são essenciais para o futuro do desenvolvimento do nosso agro”, declarou Coelho.
A senadora Tereza Cristina também enalteceu o setor. “Essa união e organização do setor é que nos dá força para que a gente possa vencer todos esses desafios” afirmou.
INTERAGRO
O Interagro é um evento voltado a produtores e empreendedores do agronegócio de diversos portes e segmentos.
Em sua quarta edição, o encontro, que dura três dias, serve como uma vitrine para o setor, trazendo debates, palestras e cursos, além de apresentar novas tendências e tecnologias do agronegócio mundial.
Realizado no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, a programação que teve início no dia 20 terminará neste sábado.