Nicollas Inácio Souza da Silva, 18 anos, um dos presos envolvidos no atentado que acabou na morte de Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz, ambos de apenas 13 anos, no Jardim das Hortências, em Campo Grande, contou que ele e o comparsa João Vitor de Souza Mendes, de 19, queriam ir até o hospital para ‘terminar’ de assassinar Pedro Henrique Silva Rodrigues, alvo da execução que foi ferido na perna.
Os adolescentes estavam tomando tereré em frente de uma casa quando Pedro Henrique passou a ser perseguido pela dupla, Nicollas e João Vitor, que fizeram vários disparos acertando os adolescentes. As ordens do atentado saíram de dentro da Máxima.
Em depoimento no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), o rapaz contou ao Delegado Guilherme Scucuglia, titular da especializada, que estava em casa, na região das Moreninhas, quando recebeu mensagem de João Vitor e decidiram executar Pedro Henrique no último dia 3.
“Eu estava na Moreninha na parte da manhã, aí o João acabou mandando mensagem para mim e a gente acabou trocando ideia. E aí a gente chegou no assunto que falei para ele ‘mané, vamos acabar pegando o Pedro hoje, ele vai estar moscando na esquina do corre’. Ele falou ‘vamo’ e eu estava armado com a (pistola) 357 e ele com a 9 milímetros, e acabou que a gente foi para pegar ele”, contou.
Ele disse que foi de sua casa até a residência de Jacaré – identificado como Rafael Mendes de Souza -, em um carro de aplicativo, assim como João Vitor, também em outro veículo de aplicativo, sendo este um motorista particular do jovem. Na casa, eles planejaram a execução, trocaram de roupas, pegaram uma moto ‘segurada’ por Jacaré e foram até onde o alvo estava.
A ação durou cerca de oito minutos, segundo Nicollas, que estava com a pistola na cintura e conduzia a moto, enquanto João Vitor – na garupa -, teria efetuado os disparos. “Foi questão de 5 minutos a gente sair (da casa) e em 3 minutos a gente estava voltando”.
Sobre a motivação para a execução, Nicollas contou que sempre teve brigas com Pedro Henrique. Em uma das vezes, Pedro foi até a casa de Nicollas, nas Moreninhas, e efetuou um disparo de arma de fogo contra ele. “Aí eu esperei a melhor oportunidade para estar ‘pegando’ o Pedro”, diz.
Ele também confirmou ao delegado do Garras que João Vitor efetuou os disparos, mas que a dupla não sabia que tinha atingido os adolescentes. No entanto, 30 minutos depois souberam que Pedro foi socorrido para o hospital e então queriam ‘terminar’ de executá-lo.
“No momento, a gente não sabia que o tiro tinha acertado as crianças, mas, sim, ele (Pedro Henrique). Até então, a gente estava de boa, só que depois de uma meia hora, a gente foi olhar o Facebook, o WhatsApp, que a gente se deparou que acabou acertando as crianças. Foi onde ficamos mais chapados (enfurecidos) ainda que a gente queria ir pegar o Pedro dentro do hospital, só que aí a gente acabou nem indo, foi isso”, disse, se referindo que a polícia já estava na região e por isso não foram até a unidade hospitalar.
Nicollas ainda disse no depoimento que acha que o motorista de aplicativo Georges Edilton Dantas Gomes, que deu fuga a dupla, estava ciente da execução. Questionado sobre o que o motorista sabia, Nicollas disse: “Que ia deixar nós lá e alguns minutos depois ia pegar nós de novo, porque ele já estava ali perto, ele não saiu do bairro depois que deixou o João lá”.
“Quando ele chegou, a gente entrou dentro do carro, eu não sei se o João falou alguma coisa ou foi ele que soltou espontâneo: ‘Mas, já foi? porque eu não escutei nada, eu estava aqui perto’, provavelmente ele já sabia”, acrescentou.
O rapaz ainda disse que está arrependido de ter atingido as crianças, pois se tivesse executado Pedro Henrique estaria comemorando. “Se desse para voltar atrás eu voltaria e faria diferente. Estou falando a verdade porque se tivesse matado o Pedro, eu vou falar bem a verdade, eu estaria rindo nessas horas, bebendo…”, finalizou Nicollas.
Ao fim do depoimento, ele autorizou que a polícia acesse seu aparelho celular, afirmando que agiu na transparência com o delegado.
A Justiça decretou a prisão preventiva dos quatro envolvidos na morte dos adolescentes Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz. O crime foi cometido em uma guerra do tráfico entre grupos rivais no bairro Jardim das Hortências.
No último dia 7, foram decretadas as prisões de Rafael Mendes de Souza, conhecido como Jacaré, Nicollas Inácio Souza da Silva, que seria ‘moleque’ de Kleverton Bibiano Apolinário, conhecido como ‘Pato Donald’, e o motorista de aplicativo Georges Edilton Dantas Gomes.
Conversa pelo WhatsApp no presídio
Com acesso à comunicação garantida, os detentos do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande mantêm verdadeiro ‘serviço de contrainteligência’ para monitorar em tempo real investigações em andamento e orientar comparsas do lado de fora.
É o que mostram mensagens flagradas durante a busca pelos traficantes que executaram por engano duas crianças de 13 anos de idade no bairro Jardim das Hortênsias, em Campo Grande, no último dia 3.
No flagrante, o preso Kleverton Bibiano Apolinário, custodiado pela Agepen (Agência Estadual de Administração Penitenciária), e conhecido como ‘Pato Donald’, usa smartphone e aplicativos de comunicação instantânea nos aposentos da Máxima.
Nas mensagens, o detento orienta Nicollas Inácio Souza da Silva sobre como ‘escapar’ de ser preso pelo crime. ‘Pato Donald’ é apontado como um dos chefes do narcotráfico na região das Moreninhas, e estaria expandido as atividades para os bairros Aero Rancho e Jardim das Hortênsias.
Assim, como ‘dano colateral’ da disputa por território, mandou Nicollas matar outro traficante por dívida de droga. Foi quando os adolescentes Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz, ambos de 13 anos, foram assassinados sem ter nada a ver com o rolo dos bandidos. O alvo seria Pedro Henrique Silva Rodrigues, de um grupo rival de ‘Pato Donald’.
Na troca de mensagens rastreadas pelos policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) foi descoberto que logo depois do crime, ‘Pato Donald’ manda mensagem para Nicollas.
“Mina, vamos mocar essa arma. Vou mandar recolher ela de você. Tira de perto de você”, orienta uma das mensagens de ‘Pato Donald’.
Na mensagem enviada por Nicollas ao detento dizia: “Aqui ninguém vem, para casa que não vou. No cel do Jacaré tem o número da minha casa e eles podem ir lá”, falava.
As mensagens ainda traziam tratativas de como Nicollas poderia fugir para não ser preso pelo crime.
“Vou mandar dinheiro, fica de boa, eu coloquei você nessa. Você é meu filho”, dizia ‘Pato Donald’ a Nicollas. O ‘moleque’ era tratado como filho por Kleverton, que havia confiado seus negócios ilícitos nas ruas da Capital.
Arma de 9 milímetros apreendida
A arma usada no atentado na noite do dia 3 de maio foi localizada por equipes do Batalhão de Choque na última quinta-feira (9).
Uma pessoa fez uma denúncia anônima, em que o homem falou que havia comprado a arma de um rapaz chamado Vitor, e que havia comprado a pistola para se proteger. Ele abandonou a pistola no pé de uma placa sinalizadora, fixada entre uma loja e um quebra-molas existente na via.
A arma estaria envolvida por um pano e guarnecida no interior de uma sacola plástica preta. A pistola foi apreendida e encaminhada para a delegacia.
Conforme boletim de ocorrência que o Jornal Midiamax teve acesso, o furto da pistola aconteceu na região central de Campo Grande na noite do dia 29 de dezembro de 2022.
Na ocasião, a vítima deixou seu veículo, uma Fiat Toro, estacionado na Rua Antônio Maria Coelho. O vidro lateral direito da parte traseira do carro foi arrombado e, com isso, os ladrões roubaram a arma e uma mochila com instrumentos médicos.